A estratégia adotada para reduzir filas nos portos e os incentivos para renovação da frota de caminhões acabaram refletindo negativamente nos preços do frete. Já há quem fale que o setor de transporte vive uma crise por conta da queda dos preços pagos para o transporte de grãos, que estão em média 30% mais baixos do que os praticados durante o pico da safra deste ano.
O diretor-presidente do grupo G10, de Maringá (PR), Claudio Adamuccio afirma que, se por um lado a implantação do sistema de agendamento reduziu as filas de descarga nos portos, a solução acabou criando outro problema. “Até o ano passado, os caminhões eram utilizados como armazéns enquanto aguardavam na fila do porto. Agora estão parados, vazios, esperando uma oportunidade para serem carregados, ampliando a oferta de caminhões”, observa.
Para o diretor do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas de Mato Grosso (SindMat), Cláudio Rigatti, além do excesso de caminhões disponíveis para o transporte da safra, o mercado de frete ainda vive um reflexo da longa espera nos portos no ano passado. “Os atrasos nos embarques de grãos provocados pelas filas na última safra fez com que muitos importadores asiáticos cancelassem vários pedidos do Brasil neste ano”, afirma.
Outro fator relacionado ao mercado de grãos que afeta os preços do frete, segundo Rigatti, é a queda da cotação do milho. Segundo o diretor do sindicato mato-grossense, os produtores estão segurando as vendas do grão por estarem descontentes com os preços de exportação estão muito abaixo do preço mínimo estabelecido pelo governo federal. A saca está cotado a R$ 8,00 enquanto o preço de garantia oficial é de R$ 13,00. “Então o produtor está esperando o governo realizar leilões de compra para voltar a vender o milho, e isso reduz a procura por transporte”, observa.
As facilidades criadas pelo governo federal para a compra de caminhões estão entre os fatores que provocaram queda nos valores dos fretes. O diretor-executivo da Associação dos Transportadores de Carga de Mato Grosso(ATCMT), Miguel Mendes afirma que as taxas favoráveis do Pró-Caminhoneiro, Finames e a redução do IPI acabaram motivando muita gente a comprar caminhão. “Mesmo gente que nem era do ramo, como profissionais liberais, com médicos e advogados, apostaram na compra de caminhões como investimento. Isso ampliou muito a oferta de transporte de grãos”, explica.
Mendes observa que a queda nos valores do frete também foi agravada por uma maior participação do transporte ferroviário no transporte da safra. “Tínhamos uma grande demanda por caminhões, na região de Sorriso, Lucas do Rio verde, até o Terminal do Araguaia, que agora está sendo feito por trem”, afirma.
“Há três meses que estamos trabalhando praticamente no vermelho”, afirma do diretor do SindMat.
Segundo o dirigente, o frete em distâncias curtas, no Mato Grosso, caiu quase 40%. “O frete, que durante a colheita, estava a R$ 106,00/tonelada para o trecho entre Sorriso e o Terminal Ferroviário de Rondonópolis, agora está a R$ 66,00”, afirma. Já em uma distância maior, como Sorriso (MT) ao Porto de Santos, o frete, que atingiu, segundo o sindicalista, R$ 320,00 no auge da safra, agora está em R$ 230,00.
Adamuccio, do G10, também diz que os transportadores estão trabalhando no prejuízo. Ele observa que a queda nos valores do frete afeta a lucratividade do setor. “O transportador tem um custo fixo na ordem de 35%. Se ele parar, perde 35%. Agora, rodando com estes fretes ele perde 8% contra uma lucratividade que ficava entre 10% e 12%”, compara. O empresário observa ainda que, como resultado das quedas nos valores do frete, as vendas de caminhões estão paralisadas. “O transportador que fez grandes aquisições no ano passado estão se tornando inadimplentes”, afirma.
Mendes diz que a situação não é diferente no Mato Grosso. Ele diz que por causa da queda da produtividade dos veículos, e consequentemente, da receita das transportadoras, muitas empresas estão em dificuldades. “Estamos negociando com o BNDES para tentar uma prorrogação dos Finames. Algumas empresas já estão com pedido de recuperação judicial e outra com dificuldades para honrar a folha de pagamento de seus motoristas”, afirma o executivo.
Fonte: Revista Carga Pesada
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