O incêndio na região portuária de Santos (SP) obrigou caminhoneiros a praticamente acamparem nas proximidades do terminal. Motoristas reclamam que há dias não tomam banho, dormem dentro dos próprios caminhões e improvisam suas refeições.
O fogo nos tanques de combustíveis da empresa Ultracargo, que chega ao sétimo dia nesta quarta-feira (8), causa ainda prejuízo financeiro aos caminhoneiros.
O acesso ao porto foi parcialmente bloqueado. Impedidos de voltar para casa antes de despachar a carga transportada, motoristas deixam de ganhar, em média, R$ 300 diários pelos serviços.
Conhecidos das estradas, muitos fizeram amizades. Em comum nas rodas de conversa, o medo de ser assaltado.
O autônomo Liziar Gonçalves, 43, chegou a Santos na sexta-feira (3), um dia depois da explosão nos tanques.
Ele está estacionado em um canteiro na rodovia Anchieta desde então. “Não posso nem tomar banho, porque, se eu for ao posto, perco meu lugar”, disse à reportagem.
O caminhoneiro conta que um colega foi abordado por assaltantes de madrugada, enquanto dormia. Quebraram a janela com martelo.
Agora, afirma Gonçalves, chegou o policiamento e está mais tranquilo. Em frente ao canteiro, havia um carro e dois policiais militares no início da tarde de terça-feira (7).
Mas Ronaldo Almeida, 48, ainda se sente ameaçado. Depois de quatro assaltos em dois anos na região, o motorista justifica a calça jeans furada, a ausência de relógio e de telefone celular pelo medo de novos roubos.
Ele tirava um cochilo com a porta do caminhão entreaberta, sem camisa e de meias. “É só sofrimento. A pessoa, quando está sem dinheiro, não tem apetite nem para falar de mulher”, disse.
O caminhoneiro Jorge Fortunato, 59, chegou da cidade baiana de Luís Eduardo Magalhães a Santos na madrugada de segunda-feira (6).
Acampado no caminhão após a viagem de 1.600 km, ele conta que dá para improvisar o café da manhã. Mas reclama de ter que se arriscar para almoçar em restaurantes nas proximidades. “É só favela”, disse, apontando para o outro lado da via.
Não bastasse, disse, é obrigado a escutar as reclamações da mulher, que ele encontra uma vez a cada dez dias. “Mas tem que ganhar o pão, fazer o quê? Depois de velho, não tem mais o que fazer”.
O motorista Carlos Cavalli, 40, de Paranaguá (PR), conversava com dois colegas do município mineiro de Pedro Leopoldo, no acostamento da Anchieta. Eles reclamavam do tratamento dispensado por policiais militares.
“Reparou que, quando você pede uma informação, eles já logo põem a mão na arma?”, afirmou. “E dizem ‘volte para a origem’. Não explicam nada. Mas a minha alternativa é descarregar aqui ou descarregar aqui.
Vamos ter que esperar, sem banho, sem água e com fome”, completou.
Divulgação
Um policial que orientava o trânsito na região afirmou que o bloqueio parcial do porto “está sendo divulgado desde lá de cima [início da Anchieta], na internet e na TV”. Disse que o policiamento evita assaltos e que o caso vem sendo encaminhado da melhor maneira possível.
Procurada por meio de sua assessoria, a PM disse que não poderia responder ontem (7/3) aos questionamentos.
Fonte: Jornal Folha de S. Paulo via Portal de Notícias UOL
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