Mudança foi anunciada neste domingo (17) após medida mais restritiva e ampliada não surtir efeito no índice de isolamento. Prefeito enviou à Câmara projeto que prevê antecipação de feriados municipais para tentar fazer a ‘cidade parar’.
O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), anunciou na manhã deste domingo (17) a retomada do rodízio tradicional de carros na cidade. A medida entra em vigor a partir desta segunda-feira (18).
“Vamos publicar na edição extra do Diário Oficial deste domingo a retomada do rodízio tradicional a que estamos acostumados”, afirmou em coletiva de imprensa virtual.
Segundo o prefeito, o rodízio ampliado e mais restritivo, que entrou em vigor na segunda-feira (11), não surtiu efeito no índice de isolamento da cidade, que se manteve abaixo do esperado pela gestão municipal.
“Não tem sentido a gente exigir esse esforço sobrenatural das pessoas se, do ponto de vista prático, a única razão para qual o rodízio (ampliado) foi feito, que é aumentar o isolamento social, não foi cumprida. Continuamos abaixo dos 50%”, disse Covas.
Com o novo decreto, o rodízio volta a restringir a circulação de veículos de acordo com o número final da placa e o dia da semana, apenas no centro expandido e nos horários de pico, como era realizado anteriormente:
- Segunda-feira: final de placa 1 e 2
- Terça-feira: final de placa 3 e 4
- Quarta-feira: final de placa 5 e 6
- Quinta-feira: final de placa 7 e 8
- Sexta-feira: final de placa 9 e 0
Na semana passada, na tentativa de desestimular a circulação de pessoas, a Prefeitura de São Paulo endureceu as regras de circulação de carros na cidade.
Pela determinação, veículos com placas de final par só poderiam rodar em dias da semana pares, e veículos com final ímpar, nos dias ímpares. A medida valia por toda a cidade, durante as 24 horas do dia, inclusive aos sábados e domingos.
Entretanto, os índices seguem semelhantes aos contabilizados anteriormente, quando o governo já se preocupava com o desrespeito da população à quarentena.
Na terça-feira, 6 de maio, a taxa registrada foi de 47%, assim como na terça, 12. Nesta sexta (14), na capital, o número sofreu queda em relação ao dia anterior e chegou a 48%.
“Houve apenas uma pequena melhora no único índice que temos. O único índice disponível para medir o isolamento, baseado em localização de celulares em relação à antenas de sinal. Comparando a sexta-feira dia 8, com a sexta-feira dia 15, subimos apenas dois pontos percentuais, passando de 46% para 48% de isolamento, mantendo-se abaixo de 50%”, afirmou o prefeito neste domingo.
O rodízio foi a segunda estratégia da prefeitura para tentar ampliar a taxa de isolamento social. Dias antes, a gestão municipal chegou a fazer bloqueios em grandes vias da cidade. A medida foi bastante criticada, pois afetou profissionais de serviços essenciais, principalmente da área da saúde.
Multas
Ainda de acordo com Covas, as multas aplicadas durante os sete dias em que o rodízio restritivo permaneceu em vigor serão mantidas. “Quem foi multado, foi multado”, garantiu.
Covas disse, porém, que os recursos solicitados para liberação durante tal período serão avaliados e os prazos só começarão a contar após o término da pandemia.
Lockdown
Durante a coletiva, Covas defendeu a necessidade de paralisação para conter o avanço da doença. O prefeito disse que a gestão municipal, após duas tentativas de controle de fluxo, se vê com poucos recursos para alterar o índice.
“Precisamos ampliar o isolamento. Precisamos rápido e estamos ficando sem alternativas.”
E destacou que a gestão municipal não tem estrutura para fechar a cidade isoladamente.
“Antes de pensarmos em abrir, precisamos parar. Mas é preciso dizer que a prefeitura, sozinha, não tem todos os principais instrumentos para fechar totalmente a cidade. Nossa competência constitucional em segurança é muito limitada. Não há no mundo caso de autoridade pública sem poder de polícia, sem segurança pública, que consiga implantar um lockdown. Além disso, a capital não é uma ilha como a Nova Zelândia. Não somos isolados do mundo.”
Antecipação de feriados
O prefeito disse que enviou, neste domingo (17), à Câmara Municipal, um projeto em regime de urgência propondo a antecipação de feriados municipais como estratégia para alterar a taxa de isolamento social, enquanto um possível fechamento da cidade é elaborado pelo governo.
“A cidade de São Paulo é sócia-minoritária, mas não controla o Metrô nem os trens. São Paulo precisa desacelerar ainda mais por um dias para diminuir novamente o ritmo de contágio e salvar vidas. Enquanto devemos nos preparar para essa tarefa gigantesca e inédita, precisamos ser criativos e usar todos os instrumentos que estão ao nosso alcance.”
A ideia, de acordo com Covas, é fazer uma “pausa forçada” na cidade. “Me resta na manga o uso de feriados municipais. Estou enviando para a Câmara o projeto de lei para antecipar os dois últimos feriados municipais de Corpus Christi e Consciência Negra. [Eles] seriam neste ano como pontos facultativos. Vamos manter as datas, mas sem o feriado obrigatório”, afirmou.
O prefeito afirmou que vai sugerir ao governador João Doria (PSDB) que faça o mesmo no feriado de 9 de Julho, data do aniversário da Revolução Constitucionalista de 1932.
O presidente da Câmara, o vereador Eduardo Tuma (PSDB), também presente na coletiva, disse que o projeto entra em pauta no legislativo municipal já nesta segunda-feira (18). A expectativa do governo é a de conseguir aprovação até terça (19).
Risco de colapso
O secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, disse neste domingo (17) que as mortes por coronavírus subiram 432% em menos de um mês na cidade de São Paulo.
Segundo o secretário, há muito mais casos suspeitos da doença do que confirmados até então.
Ele também informou que o sistema de saúde municipal poderá estar comprometido em 15 dias se novas medidas não forem tomadas.
Cidade de São Paulo (casos de Covid-19):
- 135.348 pessoas suspeitas da doença
- 38.479 casos confirmados
- 2.766 óbitos confirmados
- 3.143 óbitos suspeitos
“De 9 de abril a 15 de maio, houve aumento de 432% no número de mortos na nossa cidade. Como disse o prefeito, dos 840 leitos, 89% deles estavam ocupados. Sendo que, em 6 hospitais, chegamos à capacidade de leitos operacionais de 100% da ocupação”, disse Aparecido.
“Até 23 de abril, tínhamos a média de 812 casos de notificação por dia. Chegamos na noite de ontem à notificação de 3.867 casos por dia”, salientou o secretário.
“Em 15 dias, o sistema de saúde de São Paulo estará profundamente comprometido, mesmo com todo o esforço feito até agora na ampliação de leitos. Isso tudo será insuficiente para o grau de evolução que nós temos neste momento da doença”, acrescentou Aparecido.
Veja o vídeo da íntegra da reportagem abaixo:
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