Venda de ações da companhia em bolsa seria alternativa à privatização da empresa pública, defendida pelo presidente Bolsonaro. Para Juarez Cunha, seria saída para viabilizar modernização da empresa.
Após defender que os Correios continuem sendo uma empresa pública, o presidente da estatal, general Juarez Cunha, afirmou na semana passada, no podcast “Com a palavra, o presidente dos Correios”, direcionado aos funcionários da estatal, que estão sendo feitos estudos para a abertura de capital da empresa.
“Com vistas à modernização da empresa, já iniciamos estudos para a abertura do capital da empresa. Isso é uma medida fundamental, importante, de maneira que possamos ter um quadro de sócios minoritários”, afirmou no áudio.
Com a abertura de capital, a empresa faz uma oferta pública de ações na Bolsa de Valores, tornando-se uma empresa de capital aberto, com ações negociadas livremente no mercado. Com esse aporte, os Correios teriam recursos para financiar projetos de investimento e modernização, segundo Cunha, que não deu detalhes da fatia da estatal que poderia ser vendida.
Alternativa à privatização
A abertura de capital seria uma alternativa à privatização da empresa pública, a que Cunha se opõe. Ele afirmou no podcast que os estudos sobre a privatização serão conduzidos pelo governo federal e que haverá oportunidade de defender seu ponto de vista. No mês passado, o presidente Jair Bolsonaro teria dado aval para a privatização dos Correios.
Para a equipe presidencial, o setor está em processo de transformação e, para sobreviver, a estatal precisa ser mais competitiva e ter menos amarras. Para isso, a solução viria apenas com a privatização dos Correios.
Os argumentos que Juarez Cunha defende para o que ele chama de “não privatização” são que a estatal é independente e autossuficiente, e isso significa que não depende de recursos do orçamento, sendo independente do Tesouro Nacional, e quando apresenta prejuízo, recorre a empréstimos pagos com recursos próprios.
Além disso, ele afirma que os Correios estão promovendo uma grande reestruturação e modernização, que a deixaria pronta para competir no mercado. A abertura de capital seria uma das saídas para viabilizar essa modernização.
Cunha destacou durante o podcast o papel social feito pelos Correios em todos os municípios do país. “Esse papel é imensurável e não poderá ser realizado por uma empresa não estatal”. Os Correios são a única empresa do país que entrega cartas e encomendas para todas as cidades do Brasil.
Apesar de o setor de encomendas ter concorrência, apenas os Correios atuam regularmente devido à obrigatoriedade da universalização. No segmento de cartas, correspondências agrupadas e telegramas, a empresa detém exclusividade de exploração.
Abertura de capital foi cogitada em 2017
Em agosto de 2017, o então ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações Gilberto Kassab afirmou que o governo estudava uma forma de definir um plano de ganho de eficiência para os Correios, e a abertura de capital estava sendo cogitada, juntamente com a privatização.
Na época, a empresa pública passava por dificuldades financeiras. Após quatro anos seguidos de prejuízo (só entre 2015 e 2016, o prejuízo foi de R$ 4 bilhões) os Correios voltaram a ter lucro somente em 2017, de R$ 667 milhões, repetindo o desempenho em 2018, apesar de menor – R$ 161 milhões.
Medidas para cortar custos
Para melhorar sua saúde financeira, a empresa pública vem tentando enxugar sua estrutura administrativa. Uma das medidas foi fechar agências no país. Em 2017, foram 250 unidades localizadas em municípios com mais de 50 mil habitantes. No ano passado, foram 41 agências fechadas. Além disso, os Correios reduziram sua parte nos custos do plano de saúde dos funcionários.
No começo deste ano, os Correios anunciaram a implantação de unidades compactas dentro de estabelecimentos comerciais.
Os Correios preveem que a rede de atendimento, que hoje é composta por cerca de 12 mil pontos, ao final da implantação do processo de remodelagem, em 2021, passará para 15 mil pontos.
Após lançar dois Programas de Demissão Voluntária em 2017 e 2018, com a adesão de 8 mil empregados, os Correios estão estudando lançar dois novos PDVs.
No ano passado, os Correios, em parceria com a companhia aérea Azul, criaram uma empresa para transportar com exclusividade a carga de encomendas e serviços postais para reduzir os gastos com transporte aéreo.
Além disso, os Correios começaram a cobrar R$ 15 de todas as encomendas internacionais que chegarem ao país pela empresa.
Neste ano, os Correios lançaram uma ferramenta que traz produtos importados dos EUA para o Brasil.
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