Notícias

Ministro Paulo Guedes quer priorizar concessões no BNDES

Plano é restringir socorros setoriais na crise e garantir que banco tenha recursos para investimentos no pós-pandemia

O BNDES vai operar com restrições e privilegiar recursos para o programa de concessões, visto como pivô da retomada planejada pela equipe econômica. A orientação foi dada pelo ministro Paulo Guedes (Economia).

Assessores e técnicos afirmam que, embora não haja limites definidos, o banco prevê atravessar a crise do coronavírus com menos de 30% de seu funding —recursos próprios para empréstimos— comprometido com operações emergenciais.

O restante será destinado às operações de financiamento a concessões. Para Guedes, elas serão chave do crescimento.

Esse é um dos motivos para que o socorro setorial (montadoras, companhias aéreas e elétricas, por exemplo) seja aprovado com valores inferiores ao que foi solicitado.

As companhias aéreas foram as primeiras a pedir ajuda. Inicialmente, o setor apresentou proposta para linhas de crédito de R$ 8 bilhões, mas o banco só aceitou liberar metade.

No setor elétrico, as empresas queriam R$ 25 bilhões, mas deverão receber entre R$ 10 bilhões e R$ 12 bilhões.

Cada uma das quatro principais montadoras de automóveis pediu R$ 7 bilhões. Isso consumiria todo o dinheiro disponibilizado para a ajuda emergencial do banco.

Surgiram então rumores da fragilidade do caixa da instituição. O banco ainda terá de devolver R$ 270 bilhões ao Tesouro até 2022, conforme estabelecido pela equipe econômica no começo do governo Jair Bolsonaro.

Nos bastidores, executivos da instituição dizem que há “conforto de caixa” para garantir a ajuda emergencial porque, desta vez, o risco está compartilhado por um sindicato de bancos.

O socorro sairá de “vários bolsos”. Essa medida permitirá dividir o risco das operações e queimar menos recursos próprios nas operações de socorro à economia.

Eles afirmam ainda que, quando as conversas com o banco tiveram início, muitas empresas incluíram no cálculo de suas necessidades valores destinados ao aumento de salário de executivos, dívidas da empresa com o acionista (controlador), distribuição de dividendos e outras obrigações, que, na avaliação do banco, não se relacionam com a sobrevivência da companhia. Esse foi outro motivo para a redução dos valores aprovados.

O rigor na concessão do crédito, para que o dinheiro não fosse destinado para finalidades diferentes do ajuste de caixa, tem como objetivo cumprir uma recomendação de Guedes dada ao presidente do BNDES, Gustavo Montezano, de salvar, ao máximo, os recursos do bancos para o que o ministro chama de “segunda onda da crise”.

Para tentar reduzir o impacto causado pelo coronavírus, a prioridade do BNDES será garantir os empréstimos de longo prazo para o programa de concessões em infraestrutura.

A expectativa de investimentos gira em torno de R$ 250 bilhões, caso somente o cronograma dos leilões do Ministério da Infraestrutura dos próximos dois anos seja mantido. A infraestrutura já responde por 41,4% dos inanciamentos do banco.

Esses projetos representam risco baixo com receita garantida porque se referem a negócios regulados, como estradas (pedágios) e aeroportos (tarifas). Há também projetos importantes em Minas e Energia.

SOCORRO DO BNDES A EMPRESAS

  • Setor aéreo
    R$ 4 bilhões para cada empresa; pedido era de R$ 8 bilhões; BNDES pode ficar com até 20% de participação em caso de calote
  • Montadoras
    Devem ganhar R$ 4 bilhões; matrizes das empresas precisam colocar parte do dinheiro na operação
  • Setor elétrico
    Empresas devem receber entre R$ 10 bilhões e R$ 12 bilhões; garantia deve ser a conta de luz do consumidor

A política de reserva de recursos do banco para os financiamentos das concessões foi revelada em uma videoconferência do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, e de Montezano.

Mesmo sendo o grande beneficiado com a estratégia de Guedes, Tarcísio, que concentra a maior parte dos projetos de concessão, foi um dos que mais defenderam a ajuda do BNDES ao setor aéreo.

Para que a operação fosse viabilizada, o banco aceitou se tornar sócio das companhias, com até 20% de participação, caso não paguem o empréstimo. Sem a ajuda, na avaliação dos técnicos, haveria quebradeira no setor.

No setor elétrico, as garantias serão dadas pelos próprios consumidores por meio das contas de luz.

Ainda está em avaliação qual será o modelo para o setor automotivo.

Técnicos do banco afirmam que não existe um limite previamente estipulado para a ajuda emergencial. Eles, porém, confirmam que existe uma diretriz de equacionamento para preservar o plano de retomada.

Fonte: Jornal Folha de S. Paulo

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *