Alguns segmentos já estão nos níveis da pré-pandemia
O consumo de diesel, no Brasil, atingiu o fundo do poço em abril, mas vem dando sinais de recuperação desde então. Empresas como a Petrobras, a BR Distribuidora e a Raízen relatam já ter atingido os níveis pré-crise nas vendas do derivado. Junho, segundo fontes do setor, foi um bom mês. Os números da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), por sua vez, mostram que o mercado ensaia uma recuperação, mas que ela ainda não é completa.
O diretor de relações institucionais da Raízen, Cláudio Oliveira, explica que a retomada do consumo de diesel está atrelada, essencialmente, à atividade do agronegócio, sobretudo a safra de grãos. A agricultura tem sido impulsionada pela recuperação da economia chinesa, pelo clima mais seco e pelo fato de os portos estarem mais livres, diante da crise econômica – o que fez com que o escoamento da safra fique sem concorrentes logísticos.
“Nossos postos de rodovia estão indo muito bem, bastante demandados. Mas é uma retomada quase exclusivamente devido ao agronegócio. O setor industrial ainda não recuperou de fato e o transporte rodoviário [de passageiros] mostra sinais de melhora, mas ainda abaixo [dos níveis pré-pandemia]”, comentou o executivo.
Oliveira conta que as vendas de diesel da distribuidora voltaram ainda em maio aos níveis pré-pandemia (ou seja, anteriores ao fim de março). Em junho, segundo o executivo, a demanda se intensificou ainda mais, puxada pelo aumento das exportações de grãos – a companhia, porém, não informa os percentuais de crescimento frente aos meses anteriores à crise.
O executivo destaca, no entanto, que chama a atenção o crescimento da demanda nas regiões Norte e Nordeste. A Raízen responde por 17,7% do volume de vendas do diesel no país, ficando atrás da BR e da Ipiranga.
É nos grandes centros urbanos que há mais restrições ao consumo do derivado, sobretudo no sistema de transporte coletivo. Oliveira ressalva que, apesar da recuperação ainda que tímida desse setor, a pandemia tem se interiorizado e que cidades menores também passarão a conviver com restrições na mobilidade, nos próximos meses.
Além da Raízen, a BR – líder no volume de vendas de diesel, com participação de mercado de 28,9% – também vem sentido uma melhora nos números do mercado de diesel. O presidente da empresa, Rafael Grisolia, disse, durante a “Live do Valor ”, na semana passada, que vê com otimismo a recuperação da demanda do derivado. Ele destacou que os dados de venda de diesel costumam funcionar como um bom indicador antecedente de reativação da economia.
Segundo a BR, em abril, os volumes vendidos pela empresa estavam cerca de 5% abaixo da média do primeiro trimestre (excluída a última semana de março, quando o isolamento social começou a ganhar força no país). Em maio, esses volumes já estavam 3% maiores, na mesma base de recuperação. Em junho já se observam números compatíveis ao de março.
“Além deste [segmento do agronegócio], o segmento sucroenergético também colabora, bem como a grande resiliência demonstrada nas demandas para os setores de mineração e celulose”, informou a distribuidora.
Comportamento semelhante tem sido reportado pela Petrobras, responsável por 98% da capacidade de refino do país. No início do mês, a diretora de refino e gás natural da estatal, Anelise Lara, afirmou que a demanda pelo combustível já havia se recuperado para os níveis pré-crise. A executiva destacou ainda que espera para junho e julho novos “aumentos moderados” na demanda pelos combustíveis. Anelise citou que, em maio, a companhia vendeu 3,2 bilhões de litros de diesel.
Faltam dados no mercado, porém, sobre como têm se comportado as vendas em junho, na comparação com igual período do ano passado. Os dados da ANP mostram, por sua vez, que, pelo menos até maio, a demanda ainda não havia se recuperado completamente.
De acordo com o órgão regulador, o consumo nacional de diesel subiu 8,7% no mês passado, ante abril, pico das medidas de isolamento social impostas pelas autoridades públicas na tentativa de conter o avanço do novo coronavírus. O levantamento da ANP mostra, contudo, que as vendas do derivado ainda se mantinham, em maio, 9% abaixo dos patamares de igual mês de 2019 e 3,5% abaixo da média do primeiro trimestre. Ao todo, foram comercializados no mês passado 4,361 bilhões de litros do produto.
As transportadoras também tem notado uma recuperação desde maio. Dados da AT&M Tecnologia, empresa responsável pela averbação de 90% do transporte de cargas do país, indicam uma alta de 13% em relação a abril no valor movimentado – embora na comparação com o mesmo mês de 2019 ainda haja uma queda de 6%.
Essa alta tem sido puxada pelos setores comércio eletrônico, agronegócio, medicamentos, produtos de higiene e perfumaria e supermercados, segundo a companhia, que, em maio, ainda observou uma retração no segmento automotivo e industrial.
Para Cesar Meireles, presidente da Associação Brasileira de Operadores Logísticos (Abol), a expectativa é que com a reabertura do varejo em diversas regiões, esse aumento no fluxo de caminhões se intensifique. “Estamos vendo uma retomada da logística, que nada mais é do que um reflexo da flexibilização do isolamento, mas ainda é cedo para dizer quanto essa alta irá representar”, afirma.
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