Desafiador. Assim será o cenário econômico brasileiro em 2022 nas palavras do economista e superintendente de macroeconomia do Itaú Unibanco, Fernando Gonçalves. Ano eleitoral, com ausência de grandes reformas, marcado por inflação ainda elevada, juros altos e PIB negativo. Nesse contexto, porém, o setor de transporte de cargas deve passar descolado e continuar crescendo.
Apesar da pressão nos custos dos transportadores, devido ao preço do diesel em trajetória ascendente, impulsionado pela recuperação do preço do barril de petróleo e pela manutenção do dólar acima de R$ 5, e da redução de margem de lucro diante do incremento dos juros, o setor do agronegócio deve seguir puxando a demanda rodoviária. Além disso, herança da pandemia, o e-commerce veio para ficar e continuará movimentando o serviço de entregas principalmente nos grandes centros.
Durante apresentação no evento Olhares para 2022: Transporte Rodoviário de Carga, realizado pela plataforma online da Fenatran, a Rota Digital, Gonçalves apontou que a perspectiva do banco para a geração de riquezas no País é de crescimento de 5% em 2021 e de recuo de 0,5% no ano que vem: “Durante boa parte deste ano os juros estiveram baixos, o que ajudou quem precisava financiar algo e também auxiliou o aquecimento da economia. O problema é que, com o aumento dos preços de commodities e dos insumos, além da falta de oferta deles, a inflação começou a subir nesta reta final do ano, o que exigiu aumento dos juros”.
A projeção do Itaú Unibanco é a de que em dezembro o IPCA acumule 10,1% e, no mesmo mês do ano que vem, caia a 4,3%. Isso ao custo do ajuste da Selic, que deve encerrar o ano em 9,2% e que, no fim de 2022, chegará a 11,2%. Nesse contexto, o dólar deverá permanecer em R$ 5,50.
“Apesar da redução dos casos de covid e do isolamento social, devido ao avanço da vacinação, a atividade econômica está dando sinais de queda. As famílias estão mais conservadoras no consumo de bens apesar da retomada de serviços, como bares, restaurantes, salões de cabeleireiro e hotelaria. A redução na confiança do comércio e do consumidor desencadeada pela alta da inflação tem antecipado o impacto de desaceleração na indústria e no varejo, o que era esperado apenas para o ano que vem”.
O maior comprometimento da renda devido à inflação elevada faz com que as famílias fiquem mais endividadas. Embora as parcelas assumidas não pesem tanto no bolso devido aos juros menores oferecidos à época da contratação, agora restará menos renda para o consumo mensal, diante do aumento de contas básicas, como fazer supermercado, abastecer o carro e pagar a conta de luz. Adicionalmente, a taxa de desemprego, que deve chegar a 12,2% no fim do ano, pode aumentar a 13,3% no ano que vem.
O especialista destacou ainda que o consumo responde por 70% do PIB, daí o cenário de recessão técnica: “Temos fatores que nos levam à tempestade perfeita. A indústria sofre com a alta dos custos dos insumos e com a pressão do repasse dos preços, o consumidor retrai o consumo e a escassez de chuvas eleva as tarifas de energia elétrica para todos”.
Na avaliação de Fernando Gonçalves o único fator que poderia reverter o cenário seria a aprovação de reformas estruturais por parte do governo, a exemplo da administrativa, para conter o aumento dos gastos: “Mas o ano que vem é eleitoral e ao que tudo indica haverá disputa bastante polarizada do presidente Jair Bolsonaro com o ex-presidente da Luiz Inácio Lula da Silva. Como nas projeções Bolsonaro está atrás de Lula, o governo deverá lançar medidas de curto prazo, o que pode ajudar a economia, mas de forma pontual”.
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