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Vendas do varejo crescem 13,9% em maio, mas ainda não recuperam perda acumulada

Resultado superou as projeções de analistas; no ano, o comércio tem queda de 3,9% e, na comparação com o mesmo mês de 2019, houve recuo de 7,2%

As vendas do varejo em maio devem ajudar a atenuar as perdas esperadas para a economia no segundo trimestre, período considerado o fundo do poço para o comércio, pelos impactos da pandemia do novo coronavírus no País. Passado o baque provocado pelas medidas de isolamento, o varejo teve crescimento recorde de 13,9% no mês ante abril, segundo a Pesquisa Mensal de Comércio, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O varejo em maio se saiu melhor do que o previsto pelos analistas, que esperavam que as vendas tivessem subido na casa dos 6% ante abril. Parte da melhora foi reforçada pelas medidas tomadas para preservação de empregos – como a redução de jornada e salário – e a distribuição do auxílio emergencial de R$ 600 para desempregados e informais de baixa renda.

“Ao longo de maio, as medidas de isolamento foram mais frouxas, o que acaba se refletindo no movimento do comércio. Além disso, o auxílio emergencial ajudou, por mais que a renda das famílias não tenha sido totalmente recomposta. O varejo pôde sofrer menos”, avalia o economista sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fabio Bentes.

Segundo ele, a queda do PIB do País no segundo trimestre deve ser atenuada em dois pontos porcentuais, indo de uma expectativa de queda de 10% para retração de 8%. “Ainda é terrível para o País, mas no meio de tantas notícias negativas, não deixa de ser um alívio.” “A transferência de renda parece ter garantido a normalização de alguns componentes do varejo, as pessoas voltaram a consumir”, afirma o economista-chefe do banco de investimento Haitong, Flávio Serrano.

As vendas do varejo foram um dos fatores que contribuíram para a alta da Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, na última quarta-feira, 8. O principal índice, o Ibovespa, fechou o dia com alta de 2,05%, aos 99.769,88 pontos, próximo do patamar dos 100 mil pontos e no melhor nível para um fechamento desde 5 de março.

Na passagem de abril para maio, todas as atividades varejistas cresceram, com destaque para Tecidos e vestuário (100,6%) e Móveis e eletrodomésticos (47,5%) – bens duráveis tidos como termômetro da confiança do consumidor.

Ainda assim, o desempenho foi insuficiente para reverter as perdas históricas acumuladas em março e abril. O varejo ainda está 7,3% abaixo do patamar pré-pandemia, em fevereiro. Quando se olha para o varejo ampliado – que inclui veículos e material de construção –, a retração é de 15,4% em relação ao patamar pré-pandemia, já considerando o avanço de 19,6% nas vendas obtido em maio.

Retomada
Após tombo em abril, varejo tem alta recorde em maio

Cautela

Na avaliação de pesquisadores do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), o varejo deve ajudar a amortecer as perdas da economia, mas ainda é preciso olhar para o comportamento do setor de serviços, que deve repetir em maio os baixos resultados que teve em abril. “Os dados do comércio são muito importantes para o PIB e aparentemente, as medidas de transferências de renda foram importantes. Ainda é preciso acompanhar os desdobramentos da pandemia, mas até agora abril parece ter sido o fundo do poço para o varejo”, diz Luana Miranda, pesquisadora da área de Economia Aplicada do Ibre.

Para o ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman, porém, os dados ainda são preocupantes e o desempenho do varejo em maio não deve ser comemorado, quando comparado aos resultados de fevereiro e de maio do ano passado. “A produção de automóveis explodiu em maio e junho, mas depois de ficar zerada em abril. No frigir dos ovos, a produção em junho ainda é inferior à metade de fevereiro.

Os dados de consumo, que incluem a utilização de serviços, devem ser ainda piores que os do varejo.”O comércio já deixou de faturar cerca de R$ 240,8 bilhões desde o início da crise, segundo cálculo da CNC. As perdas se acumulam desde a segunda quinzena de março até o fim de junho. Apesar da melhora a partir de maio, o comércio deixou de faturar R$ 69,5 bilhões naquele mês. Em junho, quando começou a flexibilização das medidas de isolamento social nos municípios de São Paulo e Rio, o rombo no faturamento ainda foi de R$ 54,6 bilhões. O cálculo da CNC se refere ao comércio varejista ampliado.

Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo

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